(Luxação congênita do quadril)
Um guia para os pais

Dr. Alexandre F. de Lourenço
Ortopedia Pediátrica

O QUE É DISPLASIA DO QUADRIL?

A displasia do quadril é um termo abrangente que inclui um amplo espectro de alterações do quadril na criança e que pode ser resumidamente dividido em três grupos:

  • luxação congênita – a articulação está fora do lugar
  • quadril instável – a articulação pode ser colocada fora do lugar
  • quadril imaturo – há uma imaturidade da cobertura articular.

 

Essas alterações frequentemente podem ser notadas ao nascimento (congênita) porém, muitas vezes, aparecem apenas com o desenvolvimento da criança. É importante saber que apenas a luxação e a instabilidade podem ter sinais clínicos, evidenciados pelas manobras de Ortolani e de Barlow, respectivamente. O quadril imaturo não apresenta qualquer alteração no exame físico e devemos lembrar que essa imaturidade é apenas relativa à formação da articulação e não tem relação com o tempo da gestação.

A sua forma mais grave, a luxação do quadril, pode ser congênita ou pode evoluir a partir de um quadril instável ou imaturo. Por este motivo, no mundo inteiro, tem se dado a preferência ao termo displasia do quadril no lugar de luxação congênita do quadril por ser mais abrangente.

A DISPLASIA DO QUADRIL É FREQUENTE?

Sim. A incidência da displasia do quadril é variável e gira em torno de 1 a cada 1000 nascimentos nas formas mais graves até 15 a cada mil nascimentos nas formas mais leves (quadris imaturos). Portanto, a displasia do quadril é uma alteração comum nos recém-nascidos e que pode ser tratada. Portanto, pais, nada de pânico!

POR QUE ISSO ACONTECEU COM O MEU BEBÊ?

Sua causa ainda hoje é desconhecida, embora várias teorias tenham sido propostas. Sabemos que existem alguns fatores de risco associados, tais como: apresentação pélvica (ao nascimento a criança está sentada), história familiar etorcicolo congênito. Sabemos também que a displasia é mais comum no sexo feminino e na(o) primeira(o) filha(o). Deve-se salientar que a maior parte dos quadris instáveis ou imaturos vai evoluir bem sem qualquer tratamento, porém, é impossível diferenciar quais serão eles sem uma avaliação adequada. Caso seja deixada sem tratamento e a condição não se resolver espontaneamente, as consequências podem ser desastrosas, tais como a criança mancar e na vida adulta ocorrer uma artrose: (degeneração articular) precoce.

COMO SE FAZ O DIAGNÓSTICO?

O primeiro passo para o diagnóstico é feito pelos antecedentes pessoais e familiares, ou seja, detectar os possíveis fatores de risco descritos acima.

O exame físico pode ser mais evidente no caso de um quadril luxado, quando o médico consegue sentir na mão o momento que a articulação é colocada no lugar (manobra de Ortolani) ou quando o quadril é instável e é possível deslocá-lo, parcial ou totalmente (manobra de Barlow).

MANOBRA DE ORTOLANI
MANOBRA DE BARLOW

Infelizmente, nem sempre é possível evidenciar esses sinais. Além disso, a criança não tem dor mesmo quando a articulação está fora do lugar (luxada).

A radiografia da bacia não é muito útil porque grande parte da articulação do quadril no recém-nascido é composta por cartilagem, que não é visível com raio-X.

Assim, já há vários anos, usamos a ultrassonografia para diagnosticar e/ou descartar uma eventual displasia do quadril. Esse exame não envolve radiação e é altamente sensível para detectar todas as estruturas da articulação do quadril.

COMO SE TRATA?

Caso seja diagnosticada uma alteração no quadril no período neonatal, as chances de sucesso com o tratamento são enormes. Esse é o “período de ouro” para corrigir qualquer forma de displasia do quadril. A forma mais empregada no mundo inteiro tem sido a alça de Pavlik. Outro tipo de órtese, que considero uma opção apenas para casos sem instabilidade articular é o Tübingen, aparelho muito usado na Alemanha.

A alça de Pavlik é bastante simples de usar e a criança adapta-se facilmente. O tempo de uso do aparelho vai depender do grau de displasia do quadril, raramente ultrapassando 2 meses. De qualquer forma, deve ser feito um controle com ultrassom e reavaliações ortopédicas periódicas para acompanhamento da evolução.

SUSPENSÓRIO DE PAVLIK
ÓRTESE DE TÜBINGEN