Um guia para os pais

Dr. Alexandre F. de Lourenço
Ortopedia Pediátrica

O termo pé torto congênito é aplicado à deformidade em equinocavovaro. Sua causa é desconhecida, apesar dos vários estudos já realizados. Diversos fatores, dos quais a genética é a mais reconhecida, parecem contribuir para a presença da deformidade. O pé torto congênito é uma alteração relativamente comum, ocorrendo em torno de 1 a cada 1.000 bebês que nascem. Afeta mais os meninos e o pé direito, mas 50% das vezes os dois pés são acometidos.

O termo equinocavovaro remete às três principais alterações encontradas nesta deformidade. Equino faz referência ao fato de haver um encurtamento do tendão de Aquiles, que deixa a parte da frente do pé mais para baixa que o calcanhar, apesar de não se ter essa impressão quando olhamos o pé de frente, isso porque o pé está virado para dentro (varo). Quanto ao cavismo, é assim chamado porque existe uma acentuação da “curvinha” do pé.

Cavismo

TRATAMENTO

É importantíssimo que o tratamento seja iniciado precocemente. Temos usado a técnica do Prof. Ponseti há muitos anos, sendo um dos pioneiros no Brasil a usar este método. Cerca de 90% dos pés são corrigidos em cerca de 2 meses. Nossa experiência com essa técnica já foi aplicada em mais de 400 crianças e tem sido mostrada em Congressos aqui e no exterior.

O Prof. Ponseti foi um médico visionário que formulou sua técnica na Universidade de Iowa, onde tive a oportunidade de aprender diretamente com ele. É uma técnica de tratamento conservador, indolor e com alta taxa de sucesso quando bem aplicada. A técnica consiste numa manipulação cuidadosa para alinhar gradualmente os ossinhos do pé afetado, seguida da colocação de um gesso para manter a correção obtida. A cada semana esse processo se repete procurando-se manter o pé cada vez mais na posição normal.

Dr. Alexandre Lourenço e Dr. I. Ponseti
Universidade de Iowa

Assim, é fundamental que o tratamento com gesso seja feito da melhor maneira para que a criança obtenha máxima função para seus pés.

SEQUÊNCIA DE GESSOS

Como dissemos, geralmente são feitas 4 a 5 trocas de gesso. A cada semana se posiciona o pé, corrigindo-se todas as alterações simultaneamente. Veja nessa sequência de gessos como isso ocorre, gradualmente o pé vai sendo virado para fora.
Quando olhamos essa mesma sequência de gessos de perfil na figura abaixo, fica mais evidente a alteração em equino que referimos acima. Podemos observar que inicialmente a parte anterior está bem abaixo do calcanhar. Sequencialmente ocorre uma melhora, mas em 90% dos casos ainda persiste uma limitação para deixar a ponta do pé mais para cima, o que leva à necessidade de um pequeno procedimento chamado tenotomia.

TENOTOMIA

A tenotomia é um procedimento simples que visa ganhar o que chamamos dorsiflexão, ou seja, proporcionar que o dorso do pé consiga ir em direção à perna. Mal precisa fazer um pontinho no corte efetuado, que é extremamente pequeno. Geralmente fazemos essa pequena cirurgia no hospital por volta dos 2 meses de idade, na sequência do último gesso colocado no consultório. O pé fica imobilizado com mais um gesso por 2 a 3 semanas após esse procedimento e depois de ser retirado inicia-se a manutenção da correção com uma órtese de abdução do pé.
Tenotomia percutânea do tendão de Aquiles
Gesso após a tenotomia
Aspecto do pé logo após a retirada do último gesso. Veja o pequeno pontinho no corte do tendão de Aquiles.

MANTENDO A CORREÇÃO

Para manter a correção é preciso usar uma órtese (aparelho ortopédico) que consiste num par de botinhas unido por uma barra fixa. Essa órtese deve ser usada após a retirada do último gesso no seguinte esquema: nos primeiros 3 meses em período integral (retirando apenas para higiene/banho) e depois por 10/12h no período noturno até os 4 anos de idade. São diversos modelos que existem no mercado, com uma ampla faixa de preços, mas o que importa é que seja confortável e que seja mantido segundo o esquema citado acima. O pé afetado fica rodado para fora em 700 e o pé normal fica em 400.
Nessa fase do tratamento é importantíssima a participação da família. A criança vai andar na idade certa, usando sapatos normais e sem qualquer prejuízo para seu desenvolvimento neuromotor, mas à noite deverá usar a órtese para evitar recidiva com a necessidade de nova série de gessos ou mesmo algum outro procedimento.

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Tratamento efetuado com sucesso e uso correto da órtese